A escolha de um tema feminino no âmbito da cultura japonesa, para este Projeto, justifica-se pela intenção de lançamento de pontes entre culturas diferentes. Pelos valores de arte que configura e pela autonomia que projecta, a figura da Geisha pode assumir-se como símbolo do que de mais belo e próprio deparamos na história do Japão. Embaixadoras de um sentido estético, poético e noético, elas representantam eloquentemente um modo singular de festejar a natureza, de entender o espaço e o movimento, expresso no seu estilo coreográfico, no seu próprio deslocar. Elas são gravuras vivas duma tradição milenar, que ao Ocidente abre as portas de um ritual de beleza e requinte.


   Os painéis que a essa figura pretendem referir-se acompanham-se, no Projecto, de pequenas frases que, à maneira dos hai-kai japoneses, sugerem a sua união com a natureza e os múltiplos estados de alma que pode essa união propiciar. Brilhos fortuitos projectam dimensões vívidas, cativam o tacto para a maciez dos tecidos que materializam as formas visuais. A Natureza incorporada trai, reflecte os momentos de nostalgia de uma Geisha, sempre ausente de si, presente sempre à realidade que a cerca. Momentos fugazes de delicado prazer, oscilando entre a percepção do que é – o ser – a aspiração ao que, porventura, deveria ser – a beleza. A cerejeira – flores e seus frutos – que torna visível o fluir do tempo – quatro estações, mutação para o amadurecimento – é o símbolo da Geisha, verdadeira materialização de um fascinante entendimento da Existência, do Mundo.


Leonor Alvim

Geishas

I - Vento  - (Movimento)


Só o vento sopra carregado de flores e ramos


Por cima dos telhados e águas límpidas


Tudo roda


Seguro pelas faixas  dos quimonos

II - Amanhecer


Na madrugada que nasce pintei uma cerejeira com frutos


É a aurora que se ergue sobre os mantos da noite!...

III - Noite 


Quando a lua se recolhe num lago de lápis lazúli


Sou árvore e fruto, sou um peixe que desliza…


IV - Primavera


Asas de borboleta nos verdes húmidos dos prados…


Sou flor que voa, sou da cor das águas…



V - Verão (Cor) 


Arco íris de todas as cores, chama, vento e flores!


O sol brilha e cega meus olhos de lágrimas!



Sou pássaro de fogo!



VI - Inverno


Quando a neve cai e o vento dança


Espalha todas as pétalas que já floriram….




VII - Outono 


As cores são manchas de folhas


Que caiem  no chão sob o céu sem fim



- Procuro-me entre ramos de cerejas…





VIII - Som 


E do por do sol resta


Apenas


O voo sobre as águas…