A escolha de um tema feminino no âmbito da cultura japonesa, para este Projeto, justifica-se pela intenção de lançamento de pontes entre culturas diferentes. Pelos valores de arte que configura e pela autonomia que projecta, a figura da Geisha pode assumir-se como símbolo do que de mais belo e próprio deparamos na história do Japão. Embaixadoras de um sentido estético, poético e noético, elas representantam eloquentemente um modo singular de festejar a natureza, de entender o espaço e o movimento, expresso no seu estilo coreográfico, no seu próprio deslocar. Elas são gravuras vivas duma tradição milenar, que ao Ocidente abre as portas de um ritual de beleza e requinte.
Os painéis que a essa figura pretendem referir-se acompanham-se, no Projecto, de pequenas frases que, à maneira dos hai-kai japoneses, sugerem a sua união com a natureza e os múltiplos estados de alma que pode essa união propiciar. Brilhos fortuitos projectam dimensões vívidas, cativam o tacto para a maciez dos tecidos que materializam as formas visuais. A Natureza incorporada trai, reflecte os momentos de nostalgia de uma Geisha, sempre ausente de si, presente sempre à realidade que a cerca. Momentos fugazes de delicado prazer, oscilando entre a percepção do que é – o ser – a aspiração ao que, porventura, deveria ser – a beleza. A cerejeira – flores e seus frutos – que torna visível o fluir do tempo – quatro estações, mutação para o amadurecimento – é o símbolo da Geisha, verdadeira materialização de um fascinante entendimento da Existência, do Mundo.
Leonor Alvim